quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Eric Clapton - Rendição

Capa do livro
Trecho do livro autobiográfico de Eric Clapton.

Certo dia, quando minha internação estava chegando ao fim, o pânico me atingiu, e percebi que de fato nada havia mudado em mim, e eu estava voltando ao mundo mais uma vez completamente desprotegido. O ruído em minha mente era ensurdecedor, e a bebida estava em meus pensamentos o tempo todo. Fiquei chocado ao perceber que estava em um centro de tratamento, um ambiente supostamente seguro, e estava em sério perigo.

Naquele momento, quase que por si mesmas, minhas pernas cederam, e caí de joelhos. Na privacidade de meu quarto, implorei por socorro. Eu não atinava com quem estava falando, sabia apenas que havia chegado ao meu limite, não me restava mais nada para lutar. Então lembrei do que tinha ouvido falar sobre rendição, algo que pensei que jamais conseguiria fazer, que meu orgulho simplesmente não permitiria, mas entendi que sozinho eu não teria sucesso, por isso pedi socorro e, caindo de joelhos, me rendi.

Em poucos dias percebi que havia acontecido alguma coisa comigo. Um ateísta provavelmente diria que foi apenas uma mudança de atitude, e em certa medida é verdade, mas foi muito mais que isso. Encontrei um lugar a que recorrer, um lugar que sempre soube que estava ali, mas em que nunca realmente quis ou precisei acreditar. Daquele dia até hoje, jamais deixei de rezar de manhã, de joelhos, pedindo ajuda, e à noite para expressar gratidão por minha vida e, acima de tudo, por minha sobriedade. Prefiro me ajoelhar porque sinto que preciso ser humilde quando rezo e, com meu ego, isso é o máximo que posso fazer.

Se você está perguntando por que faço tudo isso, vou dizer... porque funciona, simples assim. Em todo esse tempo em que estou sóbrio, nenhuma única vez pensei seriamente em tomar um drinque ou usar alguma droga. Não tenho problema com religião e cresci com uma forte curiosidade sobre modelos espirituais, mas minha busca afastou-me da igreja e da veneração em grupo rumo a uma jornada interior. Antes de minha recuperação ter início, encontrei meu Deus na música e nas artes, com escritores como Herman Hesse, e músicos como Muddy Waters, Howlin' Wolf e Little Walter. De algum jeito, de alguma forma, meu Deus sempre esteve ali, mas agora eu havia aprendido a falar com ele.
Eric Clapton, A Autobiogafia (Editora Planeta), p.281.

2 comentários:

Luiza disse...

Nossa, eu tenho que ler esse livro! Obrigada pelo trechinho, inspirador!

Anônimo disse...

Amei o blog****