sábado, 3 de julho de 2010

RBS, Colégio Catarinense e o território livre da internet

Por João David C. Mendonça


O episódio do abuso sexual cometido por três garotos de classe alta em Florianópolis, entre eles o filho de um diretor da RBS em Florianópolis, requer de nós um olhar bastante cuidadoso e algumas reflexões.

A facilidade com que as pessoas repassam as informações sem ao menos checar a sua veracidade é impressionante. Desde a primeira vez em que recebi o e-mail relatando o ocorrido, já era fácil perceber que aquela carta de um suposto grupo de mães do Colégio Catarinense tinha um quê de fantasioso e rancoroso, como se seu autor estivesse mais interessado em vomitar seu ódio contra o referido Colégio do que expressar efetivamente o seu repúdio ao terrível ato do abuso cometido pelos jovens.

Mas o território livre da internet não quer saber o que é verdade, o que é falso. Ele apenas quer ampliar seu limites, espalhar-se como um virus incontrolável, atingindo a todos os envolvidos, sejam eles culpados ou inocentes. E conta com a colaboração ingênua da maioria dos internautas, que geralmente replicam e-mails sem uma simples averiguação.

De nada adiantou uma nota do Colégio Catarinense afirmando que os garotos nem eram alunos da instituição. Quem repassou o primeiro e-mail, muito mais bombástico, dificilmente encaminhará para sua lista de endereços a mensagem que tenta recolocar no lugar algumas verdades. Tarde demais, o estrago já está feito. Para alegria de quem deu o primeiro tiro.

Por outro lado, não podemos deixar de notar também o papel importante dos blogs e meios eletrônicos num Estado em que infelizmente o poder da mídia é concentrado apenas em uma empresa, no caso a RBS. Em outras épocas, pré-internet, provavelmente ninguém teria tomado conhecimento do ocorrido. Com a internet, a conhecida "operação abafa" já não é tão bem sucedida como antigamente.

Neste sentido, a internet então pode ter um duplo e contraditório papel: ser um terreno fértil para o plantio de falsas denúncias com efeitos devastadores, ou um espaço que pode nos salvar da hegemonia de grupos midiáticos poderosos que escolhem quais notícias podem ou não podem chegar até a população.

Mas atenção: se não podemos condenar o Catarinense neste caso específico, pois esses garotos poderiam sim ser de qualquer colégio, particular ou público, não podemos tampouco ignorar a crueldade e repugnância do abuso cometido por estes rapazes, exemplos perfeitos de uma sociedade adoecida, reflexos de uma forte crise de valores pela qual passam as famílias dos tempos atuais. Crise que, para o adolescente, se manifesta no desrespeito ao outro, no desrespeito ao corpo do outro, e no desrespeito ao seu próprio corpo e a si mesmo. 

Merecem sim a justa condenação, não por serem filhos de quem são, mas pelos criminosos atos cometidos.

Diante de um caso tão horroroso como esse, alguns pensamentos me vem à mente:

. A menina vitimizada, juntamente com sua família, precisa de um delicado tratamento psico-emocional, que lhes traga fortalecimento para superar os efeitos de toda esta brutalidade vivenciada;

. Estes garotos, paralelamente às justas condenações que esperamos possam vir sobre eles, necessitam também de uma intervenção psicológica, seja para compreender o que os levou a chegar ao ponto de cometer tais atos, seja como uma forma de trabalhar preventivamente para que eles não voltem a ocorrer;

. A RBS, sempre tão impiedosa nas divulgações dos escândalos, agora bebe de seu próprio veneno, e seu comentarista que fica na hora do almoço despejando pela televisão suas técnicas educacionais na base da porrada, soltando impropérios e esmurrando a mesa com sua cara de homem irrepreensível, desta vez não se manifestou nem chamou os meninos pra "sua delegacia";

. Algumas pessoas estão se aproveitando da tragédia vivida pela menina e sua família para manifestar seu ódio classista e elegeram o Colégio Catarinense como vilão desta história, misturando propositalmente fatos reais com mentiras;

. Já que neste caso não é possível haver uma comoção popular midiática, pois geralmente é a própria RBS/Globo que fomenta este tipo de reação na população, a tal comoção está vindo pela internet - uma "comoção virtual", com os blogs replicando informações, denúncias, opiniões, verdades e falsidades. 

É lamentável que histórias como esta aconteçam em nossa cidade, você não acha?



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