Nos anos 90, Eric Clapton incluiu uma divertida versão no seu Unplugged.
E pra diversão ficar completa, uma banda de banjos de, claro, San Francisco:
Certo dia, quando minha internação estava chegando ao fim, o pânico me atingiu, e percebi que de fato nada havia mudado em mim, e eu estava voltando ao mundo mais uma vez completamente desprotegido. O ruído em minha mente era ensurdecedor, e a bebida estava em meus pensamentos o tempo todo. Fiquei chocado ao perceber que estava em um centro de tratamento, um ambiente supostamente seguro, e estava em sério perigo.Eric Clapton, A Autobiogafia (Editora Planeta), p.281.
Naquele momento, quase que por si mesmas, minhas pernas cederam, e caí de joelhos. Na privacidade de meu quarto, implorei por socorro. Eu não atinava com quem estava falando, sabia apenas que havia chegado ao meu limite, não me restava mais nada para lutar. Então lembrei do que tinha ouvido falar sobre rendição, algo que pensei que jamais conseguiria fazer, que meu orgulho simplesmente não permitiria, mas entendi que sozinho eu não teria sucesso, por isso pedi socorro e, caindo de joelhos, me rendi.
Em poucos dias percebi que havia acontecido alguma coisa comigo. Um ateísta provavelmente diria que foi apenas uma mudança de atitude, e em certa medida é verdade, mas foi muito mais que isso. Encontrei um lugar a que recorrer, um lugar que sempre soube que estava ali, mas em que nunca realmente quis ou precisei acreditar. Daquele dia até hoje, jamais deixei de rezar de manhã, de joelhos, pedindo ajuda, e à noite para expressar gratidão por minha vida e, acima de tudo, por minha sobriedade. Prefiro me ajoelhar porque sinto que preciso ser humilde quando rezo e, com meu ego, isso é o máximo que posso fazer.
Se você está perguntando por que faço tudo isso, vou dizer... porque funciona, simples assim. Em todo esse tempo em que estou sóbrio, nenhuma única vez pensei seriamente em tomar um drinque ou usar alguma droga. Não tenho problema com religião e cresci com uma forte curiosidade sobre modelos espirituais, mas minha busca afastou-me da igreja e da veneração em grupo rumo a uma jornada interior. Antes de minha recuperação ter início, encontrei meu Deus na música e nas artes, com escritores como Herman Hesse, e músicos como Muddy Waters, Howlin' Wolf e Little Walter. De algum jeito, de alguma forma, meu Deus sempre esteve ali, mas agora eu havia aprendido a falar com ele.
A Verdade Nua e a Parábola
A Verdade Nua caminhou pela rua um dia.
As pessoas viraram o olhar para outro lado.
A Parábola chegou, adornada e bem vestida.
As pessoas a saudaram com alegria.
A Verdade Nua sentou-se solitária, triste e despida.
"Por que você está tão triste?" - perguntou a Parábola.
A Verdade Nua respondeu: "Não sou mais bem-vinda.
Ninguém quer me ver. Eles me expulsam de suas portas."
"É difícil olhar para a Verdade Nua" -- comentou a Parábola.
"Deixa-me vesti-la um pouco. Certamente, você será bem recebida".
A Parábola vestiu a Verdade Nua com um vestido fino feito de narrativa, com metáforas, uma prosa incisiva e enredos cheios de inspiração.
Com riso e lágrimas e aventura a se revelar, juntas elas começaram a desfiar uma estória.
As pessoas abriram suas portas e serviram a elas o que havia de melhor.
A Verdade Nua vestida de estória era uma convidada muito bem-vinda.(conto judaico, readaptado por Heather Forest)
Irwin Silber, editor da revista de folk Sing Out! também estava lá. Em poucos anos, ele me repreenderia em público na revista por eu ter voltado as costas para a comunidade do folk. Foi um texto irado. Eu gostava de Irwin, mas não podia me relacionar com aquilo.
Miles Davis seria acusado de algo semelhante ao fazer o álbum Bitches Brew, obra musical que não seguia as regras do jazz moderno, o qual estivera à beira de irromper no mercado popular, até o disco de Miles aparecer e liquidar com as chances. Miles foi repudiado pela comunidade do jazz. Não posso imaginar Miles ficando muito contrariado.
Artistas latinos também estavam quebrando as regras. Artistas como João Gilberto, Roberto Menescal e Carlos Lyra estavam libertando-se do samba infestado de percussão e criando uma nova forma de música brasileira com modulações melódicas. Eles a chamavam de bossa nova.
Rock não é coisa para maricas. Erasmo está aí que não me deixa mentir. Ao ouvir esse último trabalho imagino o "gentle giant" cantando no palco vestido de couro preto da cabeça aos pés enquanto marca o beat da música com a mão na coxa. Desde Marlon Brando e James Dean sou chegada num bad boy. Erasmo era o bad boy da Jovem Guarda, o que para mim significa ser ele o verdadeiro pai do rock brasileiro. E no meio dos trocentos clones que poluem as atuais paradas de sucesso com suas mesmices, eis que nosso Tiranossaurus Rex abre alas só com inéditas.As músicas são a simplicidade com trombetas. As letras o pretinho básico com diamantes. O backing vocal um coral de anjos infernais. Os instrumentos e os arranjos são pérolas do bom gosto (rola até um Farfisa e um Hammond no meio de modernidades sonoras). E toda essa farra pilotada pela produção de Merlin Liminha. Graças aos deuses Erasmo é Erasmo, uma sacação genial se dizer cover de si mesmo no meio dos Elvis, Robertos, Rauls e Beatles, seus roqueiros porretas.Você vai ouvir um macho apaixonado pelas fêmeas do planeta sem o menor pudor. Entre mulheres melancias, samambaias, melões e jacas, só Erasmo para proclamar aos quatro ventos que a mulher é uma guitarra.E rola de tudo no salão. Melodias lacrimejantes, harmonias delicadas, rocks gaiatos, baladas românticas, declarações rasgadas, deboches safados, conselhos para dor de cotovelo, guitarras sutis, baixos esquisitões, enfim: Erasmo Rock'n'Roll Carlos me deu uma baita inveja da leveza com que ele conduz seu barquinho por entre as tempestades e calmarias da vida. Erasmo, cadê você? Eu vim aqui só pra te ver!